O mês de setembro é da música colonial brasileira e a Associação de Canto Coral, na sua obrigação perante a memória musical brasileira, reverencia o principal compositor do período: José Maurício Nunes Garcia.
Para os concertos do mês separamos músicas de diversas fases do padre mestre:
As Vésperas de Nossa Senhora de 1797 revelam uma faceta importante do padre: obra da primeira fase do compositor, mostra o gosto do padre pela sonoridade homofônica coral, realçando a mistura das vozes, pelos contrastes de dinâmica, e pelas intervenções de solistas.
O Te Deum de 1809 é da segunda fase do compositor. Como mestre da Capela Real, este foi um momento áureo para o padre e o período em que compôs mais obras. Composto para as matinas de São Pedro, é a obra da fase de maior sucesso. Com um amplo solo de tenor que perdura durante a obra inteira, a música é feita em torno da voz solista. São perceptíveis as diferenças harmônicas em relação às Vésperas de Nossa Senhora, bem como o uso dos uníssonos, tão presente na obra do compositor a partir da segunda fase.
O Laudate Pueri de 1821 é obra da fase mais madura do compositor. Escrito nove anos antes de sua morte, mostra o gosto do padre pelas modulações inesperadas; o movimento central põe em evidência a voz solista e finaliza com a mesma música do primeiro movimento, porém com outro texto, mostrando a preocupação com a reexposição dos elementos composicionais, dando sentido narrativo da obra.
O concerto também é composto por In convertendo dominus. Obra sem data definida, traz a beleza de seu conhecimento harmônico de José Maurício. Na música, é possível observar os contrastes de mistura e dinâmica vocal e as intervenções solistas próprias do compositor.
José Maurício Nunes Garcia é figura ímpar para o brasileiro. Ele representa uma parcela importante da sociedade de sua época e sua maneira de fazer música. Precisa ser reverenciado sempre.
História da Associação de Canto Coral
A Associação de Canto Coral (ACC) foi criada em dezembro de 1941, tendo como patrono musical o compositor Heitor Villa-Lobos e, como diretora artística, a maestrina Cleofe Person de Mattos. A ACC tem o objetivo de divulgar o patrimônio musical brasileiro, sobretudo por meio de concertos no Brasil e no exterior, e gravações das principais obras corais-sinfônicas do período colonial. Até a presente data, a Associação de Canto Coral já realizou mais de 750 concertos.
Preocupada com a formação de público, com a preparação de novas gerações de cantores e com a reciclagem de profissionais atuantes no meio musical, a ACC promove palestras, ciclos de leituras de obras corais, vídeos comentados, musicalização infantil, cursos para professores, estudantes de música e comunidade coral, entre outras atividades que venham melhorar a formação da comunidade e estimular o interesse pela música de concerto.
A diretora artística Cleofe Person de Mattos dedicou-se à pesquisa de obras de compositores de nosso passado musical, especialmente as obras do Padre José Maurício Nunes Garcia. Tornou-se papel da instituição a difusão do resultado dessas pesquisas que apresentou em concertos, inclusive em primeiras audições contemporâneas. De 1995 a 2012, a instituição teve como diretor artístico o Maestro Carlos Alberto Figueiredo e a Maestrina Valéria Matos, que continuaram a orientá-la com os mesmos ideais artísticos. E em 2013, a direção musical é assumida pelo Maestro Jésus Figueiredo.
A Associação já atuou com grandes orquestras, sob a regência de maestros internacionais como: Igor Strawinsky, Karl Richter, Victor Tevah, sir Colin Daves, Helmuth Rilling, Jacques Pernoo; e maestros brasileiros como Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, Isaac Karabtchevsky, Alceo Bocchino, Benito Juarez e Henrique Morelenbaum. Sua numerosa discografia inclui autores nacionais como José Maurício Nunes Garcia e os setecentistas mineiros; os nacionalistas Villa Lobos, Francisco Mignone, Brasílio Itiberê e Camargo Guarnieri; e os contemporâneos Almeida Prado e Marlos Nobre.
A Associação de Canto Coral é reconhecida como órgão de Utilidade Pública Federal, sem fins lucrativos e não conta com nenhuma subvenção pública, por essa razão se mantém pela contribuição de sócios e pelo eventual apoio de empresas privadas.
Uma aula de história. Que lindo.
Parabéns pela matéria.